Um selo musical com propósito, capaz de revelar e desenvolver novos talentos artísticos, transformando vidas de jovens das favelas do Rio de Janeiro. Assim nasce o Crespo Music, a partir da parceria entre quatro potências da indústria criativa brasileira: o AfroReggae, a Universal Music Publishing Brasil, a União Brasileira dos Compositores (UBC) e a Virgin Music Brasil.

O acordo foi assinado em uma sala histórica do Centro Cultural Waly Salomão, na favela de  Vigário  Geral, no Rio de Janeiro nesta quarta-feira (18). Foi lá que, há pouco menos de três décadas, o AfroReggae deu alguns de seus primeiros passos para se tornar uma ONG que hoje é referência mundial em inclusão social por meio da arte e da educação. Em 2015, o Afroreggae foi incluído pela ONU nas ações da campanha Global Goals (Metas Globais), com 17 compromissos assumidos por 193 líderes globais para o desenvolvimento sustentável, com o objetivo de combater a pobreza extrema e a desigualdade.

O diretor da Crespo Music é Ricardo Chantilly, profissional com mais de três décadas de atuação como empresário artístico junto a nomes de ponta da música pop brasileira (O Rappa, Jota Quest, Armandinho). Há cinco anos, Chantilly trabalha em parceria com o AfroReggae como sócio diretor do AfroGames, projeto que é pioneiro na formação de jogadores de e-sports em favelas.

“A gente vai gravar, vai editar, vai lançar, dar suporte para o artista na parte empresarial e de planejamento. Esses talentos não vão ser simplesmente jogados no mercado. Queremos caminhar junto com os que se destacarem mais, fazer um desenvolvimento de carreira”, conta Chantilly.

O setor de música para games, com grande potencial de expansão, desperta entusiasmo especial em Chantilly: “Em dois anos, espero que as produtoras brasileiras de games estejam batendo aqui para comprar trilhas feitas por jovens da favela”.

O novo selo Crespo Music já surge com um catálogo significativo: centenas de fonogramas originais compostos para as trilhas dos seriados produzidos pelo AfroReggae Audiovisual, braço criador de conteúdo da organização cultural AfroReggae. Entre esses seriados estão grandes sucessos como “Arcanjo Renegado” e “A Divisão”, destaques da programação da principal plataforma brasileira de streaming, a Globoplay.

Esse catálogo será administrado pela Universal Music Publishing Brasil. “Vamos coletar o direito autoral para todo mundo, fomentar as edições, criar parcerias e plugar no mundo externo essa produção toda. Com o estúdio que temos aqui, os equipamentos renovados, vai ser possível trazer gente de fora, artistas, produtores, criar um grande polo de produção”, vislumbra Marcelo Falcão, presidente da UMPG Brasil.

Acostumado a lidar com produtoras como a Kondzilla (que tem acordo mundial de administração com a UMPG), Falcão enxerga oportunidades criativas para o catálogo da Crespo Music no segmento do trap e nas batalhas de rima.

William Reis, coordenador executivo do AfroReggae, conta que a visão musical do selo deve ser eclética — como vem sendo historicamente a visão do grupo cultural AfroReggae: “A gente espera receber a diversidade da favela: rap, gospel, funk, trap… Até banda de rock, como já tivemos trabalhando aqui”. Reis comemora o lançamento do selo: “Vamos fazer a cidade entrar aqui em Vigário Geral, trazer mais gente de fora para gravar com a gente, dar acesso a quem não tem acesso ao mercado da música”.

O estúdio no Centro Cultural Waly Salomão será renovado com equipamento de ponta. A Universal Publishing fechou uma importante parceria com a Dolby Atmos ®: a partir da reforma, será possível qualificar os jovens produtores locais para masterizar gravações com a renomada tecnologia de som surround da Dolby Laboratories, empresa americana que é sinônimo de excelência em áudio.  

Todo esse avanço concretiza um velho sonho de Sany Pitbull, diretor artístico do Crespo e responsável pela produção das trilhas dos seriados do AfroReggae Audiovisual. Nascido na zona norte do Rio, ele tem mais de três décadas de atuação como DJ; sua capacidade criativa o tornou conhecido em todo o Brasil e na Europa como um dos grandes renovadores do gênero globalmente conhecido como “baile funk”.  

Mas hoje Sany também tem um trabalho consistente como compositor, produtor e “maestro” de trilhas sonoras, avançando por outros gêneros musicais. Sua ligação com Vigário Geral e com o AfroReggae foi aprofundada ao longo de nove anos comandando oficinas da Red Bull Academy na comunidade, envolvendo também jovens do Complexo do Alemão, da Maré e de outras favelas.

“Sempre vi as comunidades como um celeiro de talentos. São tantos jovens que a gente descobre cantando na rua, no trem… Com essa marca e essa estrutura vamos ajudar a transformar mais vidas e ter mais braços para atender às demandas de trabalho. No momento já temos mais oito produtos audiovisuais na fila de produção, temos projetos até 2025”, conta Sany.

A Virgin Music Brasil, braço da Universal Music Brasil, será responsável pela distribuição da produção do selo, em uma parceria que empolga sua equipe pelo potencial musical e pelo propósito. “Ela está muito alinhada com a nossa estratégia e com nossa preocupação com o futuro da música brasileira. Faz parte de nosso DNA dar oportunidades para jovens tão talentosos levarem sua criatividade no mundo da música digital”, comenta Paulo Lima, presidente da Universal Music Brasil.

Miguel Cariello, diretor-geral da Virgin Music Brasil, vibra: “É uma honra pessoal e profissional participar desta iniciativa, junto com o AfroReggae e a Universal Publishing, e dar oportunidade para jovens que são apaixonados por música poderem criar e apresentar suas criações. A Virgin Music Brasil cada vez mais vai buscar valorizar e dar visibilidade para a música brasileira e ajudar a desenvolver o futuro dela”.

A UBC, União Brasileira dos Compositores, entidade não lucrativa que há 80 anos administra, promove e protege os direitos autorais no Brasil, também estará trabalhando no apoio ao selo Crespo Music, com um carinho especial. Marcelo Castello Branco, CEO da UBC, ficou emocionado ao visitar o Centro Cultural Waly Salomão pela primeira vez, na semana passada: “Vamos trabalhar para que esses talentos daqui sejam protegidos e amparados pela UBC. Na área de música para games, por exemplo, há fatores para entender, estudar, mas queremos garantir que os criadores sejam bem remunerados, se integrem ao nosso ecossistema. É muito bonita a possibilidade de transformar a vida dessas pessoas. Como eles mesmos dizem, a questão não é ser artista, é antes de tudo, ser cidadão”.





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